Madonna anunciou em sua conta no Instagram que está trabalhando na continuação de Confessions on a Dance Floor, álbum lançado em 2005 que dominou as paradas e as pistas de dança. A cantora norte-americana revelou que está em estúdio com o produtor britânico Stuart Price, responsável pelo disco original, e prometeu novidades aos fãs.
Em uma publicação feita no Dia dos Namorados, Madonna afirmou estar colocando “coração e alma” na nova música e mal pode esperar para compartilhá-la. O álbum original, que inclui hits como Hung Up, Sorry e Jump, foi um marco na carreira da artista e agora ganhará uma aguardada segunda parte.
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A notícia causou comoção entre os fãs e os amantes da música eletrônica. Para os mais jovens, que não conhecem a discografia de Madonna, surgiram questionamentos: “O que faz esse álbum merecer uma segunda parte?” e “Qual foi o impacto desse disco desde o seu lançamento até os dias de hoje?”. Para responder a essas questões, é essencial compreender o significado de Confessions on a Dance Floor e o motivo de se “confessar na pista de dança”.
GIMME! GIMME! GIMME!
Eu me lembro exatamente de quando ouvi Hung Up pela primeira vez. Era impossível ignorar aquele tic-tac marcante e a batida pulsante que parecia fazer o tempo parar — ironicamente, numa música que falava justamente sobre esperar. Na época, com apenas nove anos, eu não tinha a dimensão completa do que significava Madonna samplear um dos maiores clássicos do ABBA, mas sabia que era algo grande. Todo mundo sabia.
“Confessions on a Dance Floor” não era apenas um álbum; era um acontecimento. As revistas de letras de músicas sempre traziam alguma faixa do disco, e os programas de TV dedicavam espaço generoso a cada novo clipe. O Fantástico fez um especial sobre os singles, e ver Madonna no auge da reinvenção, misturando nostalgia e inovação, era fascinante.
Eu já tinha um contato considerável com a música internacional, graças ao meu irmão, que sempre trazia novidades para dentro de casa. Foi por ele que conheci American Life em 2003, um álbum que me marcou por ser tão diferente do pop convencional da época. Antes disso, meu conhecimento sobre Madonna vinha mais das polêmicas — mesmo criança, eu sabia da repercussão de Erotica, um álbum que, nos anos 2000, ainda causava debates acalorados. Também gostava muito do Bedtime Stories, mas nada me preparou para o que Confessions representaria.

O álbum foi um divisor de águas no pop, resgatando a energia das pistas de dança dos anos 70 e 80 e trazendo uma sonoridade eletrônica impecável. O impacto foi imediato: as rádios não paravam de tocar Hung Up, e o sample de Gimme! Gimme! Gimme! (A Man After Midnight) se tornou um dos mais icônicos da música pop. Para mim, esse momento marcou uma nova fase da minha relação com a música — não era mais só sobre ouvir o que meu irmão gostava, mas sobre descobrir, por conta própria, um som que fazia sentido para mim.
Explorando as Profundezas de Confessions
Além dos singles de sucesso, Confessions on a Dance Floor apresenta faixas que, embora não tenham sido lançadas como singles, são igualmente impactantes. Músicas como How High e Push exploram temas introspectivos, refletindo sobre fama e autoconhecimento, enquanto Forbidden Love (diferente da faixa homônima de Bedtime Stories) aborda amores proibidos com uma produção sofisticada. Essas canções complementam a narrativa do álbum, oferecendo uma profundidade que vai além das pistas de dança.
Entre essas faixas, Isaac destaca-se por sua fusão única de elementos eletrônicos com sonoridades religiosas. A música incorpora vocais em hebraico do cantor Yitzhak Sinwani, que entoa trechos do poema iemenita “Im Nin’alu”, que significa “Se As Portas Forem Fechadas”, criando uma atmosfera mística e envolvente. Para mim, foi surpreendente perceber como Madonna conseguiu unir esses universos distintos, resultando em uma faixa que transcende gêneros e culturas. Essa combinação inusitada despertou em mim, ainda criança, uma apreciação por sonoridades que mesclam o moderno e o tradicional, influenciando meus gostos musicais até hoje. A capacidade de Isaac de transportar o ouvinte para um espaço quase espiritual é um testemunho da versatilidade artística de Madonna e da coesão temática presente em todo o álbum.
Para reviver a experiência de Isaac, você pode assistir à performance ao vivo da música durante a Confessions Tour:
Confessions Tour – Aqui Ela Foi Grandona (Mais Uma Vez)
Se Confessions on a Dance Floor já era um espetáculo sonoro, a Confessions Tour elevou essa grandiosidade ao nível visual e performático. Com ingressos esgotados em minutos e cenários que transformavam cada show em uma experiência imersiva, Madonna provou, mais uma vez, por que é uma das artistas mais impactantes da história do pop. Mas, como era de se esperar, a turnê não veio sem polêmicas. O momento mais controverso aconteceu quando, durante Live to Tell, Madonna surgiu em uma cruz espelhada, usando uma coroa de espinhos, enquanto imagens das vítimas da AIDS eram projetadas ao fundo. A cena provocou reações intensas, especialmente entre setores mais conservadores, mas, no fim das contas, apenas reafirmou o que sempre foi uma constante na carreira da Madonna: ela nunca teve medo de usar sua plataforma para desafiar tabus e provocar reflexões.
O que esperar de Confessions on the Dance Floor 2?
Será que teremos algo tão impactante quanto o sample de Gimme! Gimme! Gimme! do ABBA? A grande questão não é apenas qual clássico será revisitado, mas como Madonna explorará novamente essa relação quase mística entre música, religião e Electro Dance Music. Se Isaac mostrou que era possível transformar um canto tradicional em um êxtase eletrônico, o que Confessions 2 trará para expandir essa fusão de espiritualidade e batidas pulsantes? Espero que esse novo capítulo consiga impactar o João de 28 anos tanto quanto Confessions impactou aquele garoto de nove. E que, daqui a algum tempo, ao ouvir uma nova música, eu possa sentir um déjà vu sonoro e perceber que Confessions on the Dance Floor 2 deixou, mais uma vez, sua marca na minha forma de ouvir e sentir a música.
E você, já se confessou na pista de dança hoje?
SOBRE O COLUNISTA:
João Alfredo Motta
Poeta, Jornalista e Especialista em Comunicação Política.
@afredomotta_