A música sempre foi mais que um ofício para a cantora paraibana Diana Miranda — foi, desde cedo, uma filosofia de existência, um caminho para expressar o que sente e enxergar o mundo com delicadeza, coragem e arte. Criada em um lar onde a harmonia dos acordes educava tanto quanto os conselhos dos pais, Diana encontrou na música sua forma mais legítima de comunicação.
“Aprendi que a música é fonte de vida. É por ela que os males da existência encontram consolo”, confidencia.
Aos 17 anos, partiu para São Paulo em busca de oportunidades na carreira artística. Em 1992, lançou seu primeiro disco, que destacou sua versatilidade vocal ao interpretar clássicos como “Filomena e Fedegoso” e “Forró Quentinho”, de Jackson do Pandeiro, além de composições de Dominguinhos e Antônio Lídio. De lá para cá, construiu uma carreira marcada por atravessamentos culturais, encontros com grandes nomes da música e uma entrega visceral à arte.
Atualmente, Diana vive em Genebra, na Suíça, onde segue em constante movimento artístico. Realiza turnês pela Europa, mas nunca perde o vínculo com suas raízes: todos os anos, retorna à Paraíba durante o verão, para reencontrar amigos, familiares e, claro, cantar para seu povo.
Em entrevista exclusiva ao Papo Pop, a artista compartilhou uma de suas novas experimentações musicais: o samba cantado em francês e italiano. “A curiosidade fica por conta do samba sendo cantado em francês, sendo cantado em italiano. É algo que o público ainda não viu — essa transformação do samba, essa travessia de linguagens”, revela. A proposta, segundo ela, é dar ao samba outras roupagens e sotaques, sem jamais perder sua essência.
Diana faz música com a alma de quem respeita e reinventa. E é justamente essa habilidade de caminhar entre o tradicional e o inovador que a mantém como uma voz singular da música brasileira — que ecoa longe, sem nunca esquecer de onde veio.
Confira a entrevista completa:
1. Diana, para começar, conta pra gente: como nasceu sua relação com a música? E em que momento você percebeu que queria fazer disso sua vida?
A minha relação com a música começou dentro de casa, através da minha família. Eu nasci em um verdadeiro berço musical. Me desenvolvi como cantora inspirada pelos meus irmãos, que surgiram nos anos 60 com o grupo Os Quatro Loucos. Cresci cercada por música — era parte da minha vida desde sempre. Desde cedo, sonhei em ser cantora, e esse sonho começou a se realizar quando tive a oportunidade de me lançar no cenário internacional. Foi na Suíça que dei os primeiros passos da minha carreira profissional como cantora.
2. Você é conhecida por sua versatilidade e por transitar por diferentes estilos musicais. Como essa característica influencia na forma como você escolhe e constrói seu repertório?
O meu repertório é escolhido a partir da minha vivência — tudo aquilo que eu vivo, que eu respiro, que me atravessa. Não sigo um padrão fixo. Ele é versátil, é eclético, assim como a minha personalidade. Cada música carrega um pedaço de mim, do meu olhar sobre o mundo.
3. Vamos falar sobre o show “Samba de Casa”! Como surgiu a ideia desse projeto tão afetivo e coletivo? O que ele representa pra você neste momento da sua carreira?
O Samba de Casa surgiu de forma natural, porque o samba sempre foi uma das vertentes mais fortes da minha trajetória. Ele me lembra o começo da minha carreira, as minhas raízes. Foi através do samba que eu atravessei fronteiras, que cheguei à Europa — à Suíça, à França. O samba é a nossa música mais conhecida internacionalmente. A minha escola foi o samba, o jazz, a bossa nova.
4. O samba sempre esteve presente na sua trajetória? Quais foram suas principais referências dentro do gênero?
O Samba de Casa nasceu sem muita pretensão, como nasce o samba entre amigos, no quintal, no calor das rodas. É assim que o brasileiro se une para ser feliz, para compartilhar essa alegria, esse sotaque, essa linguagem universal que é o samba. Porque o samba é o samba. E o samba é de casa.
5. No palco, você estará acompanhada por grandes nomes como Renata Arruda, Nathalia Bellar e Meire Lima. Como foi reunir essas artistas nesse encontro especial?
Quis reunir Renata Arruda, Natália Belar e Meire Lima porque, para mim, elas representam três vertentes completamente diferentes dentro da música. Cada uma carrega um sotaque próprio ao cantar, uma forma única de se expressar, uma personalidade artística marcante. E isso me encanta. Mais uma vez, trago o eclético para cena, ao meu lado.
6. E o repertório? Como foi o processo de seleção das músicas para o show? Podemos esperar releituras inusitadas e misturas com outros estilos?
O repertório continua sendo o samba — essa base afetiva e rítmica que me acompanha desde o início. Mas, desta vez, vamos unir a ele a minha vivência internacional, trazendo influências que carrego do mundo afora.
7. Um ponto muito bonito do projeto é a ideia do samba como espaço de afeto, união e pertencimento. Em tempos tão acelerados, como você enxerga o papel da música nesse reencontro com a alegria?
Enxergo a música como algo absolutamente essencial. Ela é necessária para a vida, para a saúde mental, para o equilíbrio do ser humano.
8. O lançamento do “Samba de Casa” também marca o dia do seu aniversário. Como é pra você comemorar a vida em cima do palco, rodeada de música e afeto?
Festejar meu aniversário em cima do palco, com a minha música, com meus amigos, com essa energia de união que o samba traz — é um presente. É uma forma de mostrar pra mim mesma que eu estou, que eu sigo. É celebrar a vida em dose dupla: pela música e pela existência.
9. Além desse show especial, há novos projetos vindo por aí? Podemos esperar gravações, clipes, novos álbuns ou turnês em breve?
E sim, novos projetos já estão surgindo. Vem aí um show com repertório inteiramente francês, outro só com música italiana — ambos misturando esses universos com elementos da nossa terra, da Paraíba. E também a gravação de um clipe de uma música inédita de Vital Farias, que em breve vou lançar.
10. Pra encerrar: qual curiosidade sobre você ou sobre o projeto “Samba de Casa” que o público ainda não sabe, mas que você adoraria compartilhar?
A curiosidade fica por conta do samba sendo cantado em francês, sendo cantado em italiano. É algo que o público ainda não viu — essa transformação do samba, essa travessia de linguagens. A proposta é exatamente essa: levar o samba para outros sotaques, outras sonoridades, sem que ele perca sua alma.