Deezer aposta em talentos emergentes e curadoria humana: Helena Gaia fala ao Papo Pop sobre o futuro da música

Em entrevista exclusiva, Helena Gaia, líder de conteúdo na Deezer Brasil, compartilha sua trajetória no mercado, os bastidores da curadoria editorial, novidades para artistas independentes e a importância dos festivais para revelar novos talentos.

O Papo Pop Cast bateu um papo exclusivo com Helena Gaia, referência na cena musical e uma das mentes criativas por trás das estratégias editoriais da Deezer Brasil. Com mais de 20 anos de carreira, Helena abriu o jogo sobre sua jornada, que começou na MTV, passou pela produção de artistas como Criolo e chegou à liderança de curadoria da plataforma de streaming, onde hoje ela conecta talentos emergentes ao grande público.

“Comecei cuidando da relação entre artistas e a MTV. Hoje, na Deezer, faço algo parecido, mas com o foco na música em si. É uma ponte que sigo construindo entre quem cria e quem escuta”, revela.

Do “Nó na Orelha” ao digital

Foto: divulgação.

Sua trajetória inclui momentos marcantes como o lançamento do icônico Nó na Orelha, de Criolo, e sua atuação em eventos como o SIM São Paulo. A chegada à Deezer coincidiu com o boom do streaming na América Latina, especialmente durante a pandemia, quando artistas passaram a enxergar o digital como território fértil para crescer.

“O desafio era grande: como destacar um artista em um mar de lançamentos diários? Foi aí que projetos como o Deezer Next ganharam força”, explica Helena.

A plataforma, que aposta na descoberta de novos talentos, está investindo pesado em uma nova fase editorial com playlists dedicadas exclusivamente a nomes emergentes, inclusive no mercado latino.

Curadoria com alma

Quando o assunto é inovação, a Deezer une tecnologia e sensibilidade. Helena acredita que a inteligência artificial é aliada, mas não substitui o olhar humano:

“O Flow, por exemplo, cruza machine learning com a curadoria dos nossos editores. A tecnologia ajuda, mas é o olhar humano que traz verdade, contexto e emoção.”

Com a crescente presença da IA na produção musical, a plataforma também lançou ferramentas para identificar faixas geradas 100% por inteligência artificial. Segundo Helena, cerca de 18% dos envios diários são IA pura, e até 70% das execuções dessas músicas são consideradas fraudulentas.

“Nosso compromisso é com a transparência e a valorização do trabalho artístico real”, destaca.

Conselhos e o caminho do artista independente

Para quem está começando agora, o recado é direto:

“Não enxergue a plataforma como um fim, mas como consequência de um trabalho autêntico. É preciso planejamento, verdade e conexão com o público.”

Helena reforça ainda a importância de estratégias sólidas de marketing, organização de cronogramas e uma boa distribuição para garantir que a música chegue com força.

Coquetel Molotov, João Pessoa e a força da cena nordestina

Foto: Helena Gaia e Mateus Silomar.

Helena também esteve presente no Coquetel Molotov Negócios em João Pessoa, onde teve contato direto com a nova geração de artistas nordestinos.

“Foi uma experiência transformadora. Em poucos dias, conheci cerca de 40 artistas. São talentos incríveis que, muitas vezes, não têm acesso à visibilidade do eixo Sul-Sudeste. O festival é um catalisador potente para novos nomes”, afirma.

O que vem por aí?

Além da nova fase do Deezer Next, Helena promete novidades para o segundo semestre de 2025. Embora os detalhes ainda estejam em sigilo, a expectativa é que os próximos projetos aprofundem o diálogo entre curadoria, inovação e diversidade musical.

“Nosso papel é construir pontes, abrir portas e amplificar vozes que ainda não foram ouvidas. E nesse caminho, curadoria e afeto continuam sendo nossos principais instrumentos”, finaliza.

ENTREVISTA NA ÍNTEGRA – HELENA GAIA (DEEZER BRASIL)

PAPO POP: Helena, queria que você começasse contando um pouco da sua trajetória na música e como chegou à liderança de conteúdo da Deezer Brasil.

HELENA GAIA: Eu sou uma pessoa que começou trabalhando com música lá atrás, cuidando da relação dos artistas com a MTV. Depois fui me aprofundando em curadoria, planejamento, produção artística, comunicação, e trabalhei por muitos anos com artistas independentes. Fui da equipe que lançou o “Nó na Orelha”, do Criolo, trabalhei com o Emicida, com a Anelis Assumpção, enfim, com muitos nomes incríveis da cena alternativa.

Entrei na Deezer no auge da pandemia, em 2021, e o desafio era pensar como destacar talentos em meio a tantos lançamentos diários. Desde então, nosso foco tem sido fortalecer a curadoria, criar ações como o Deezer Next e dar espaço para quem tem voz, mas ainda não foi escutado por muita gente.

PAPO POP: Como funciona a curadoria editorial na Deezer? Como é feita a escolha do que entra nas playlists?

HELENA GAIA: A Deezer tem um diferencial que eu acho lindo: a curadoria editorial é feita por pessoas. A gente tem editores que acompanham o cenário de perto, que escutam, que conhecem os artistas e que pensam cada playlist com carinho. Claro que temos o suporte da tecnologia — o Flow, por exemplo, usa machine learning com base no gosto do usuário , mas o toque humano é o que dá contexto, emoção e verdade para as escolhas.

É por isso que o público se conecta. Não é só algoritmo. É afeto.

PAPO POP: A inteligência artificial tem sido cada vez mais presente na indústria musical. Como a Deezer lida com isso?

HELENA GAIA: Sim, é um assunto que está muito em pauta. A Deezer já implantou mecanismos para detectar músicas geradas 100% por inteligência artificial. Hoje, cerca de 18% dos envios diários vêm dessa origem, e muitos têm uso fraudulento para monetização, até 70% das execuções dessas músicas são consideradas fake.

O nosso compromisso é com a transparência. Não somos contra IA, mas defendemos que o público saiba o que está ouvindo e que os artistas reais não sejam prejudicados por manipulações digitais.

PAPO POP: Quais dicas você dá para artistas independentes que querem crescer nas plataformas de streaming?

HELENA GAIA: A primeira coisa que eu sempre digo é: não pense na plataforma como o ponto de partida. Pense nela como uma consequência de um trabalho bem feito, bem divulgado e autêntico.

Artistas precisam planejar, pensar em identidade, criar uma narrativa e entender que tudo é construção. Invistam em uma boa distribuidora, organizem o cronograma de lançamentos, comuniquem com o público de forma real. A plataforma ajuda, mas é o artista que constrói sua história.

E nunca deixem de escutar sua intuição artística. A verdade é o que conecta.

PAPO POP: Você esteve no Coquetel Molotov Negócios em João Pessoa. Como foi essa experiência e o contato com artistas do Nordeste?

HELENA GAIA: Foi uma das experiências mais bonitas que já tive. Em poucos dias, tive contato com mais de 40 artistas do Nordeste. Uma cena viva, criativa, forte. Muita gente talentosa que ainda não teve a visibilidade que merece, principalmente por estar fora do eixo RJ-SP.

Eventos como o Coquetel Molotov são fundamentais para criar essas pontes. Eu voltei com a cabeça e o coração cheios. O Nordeste é potência pura.

PAPO POP: O que podemos esperar da Deezer para o segundo semestre de 2025?

HELENA GAIA: Vem muita coisa linda por aí. Vamos lançar a nova fase do Deezer Next, com foco ainda mais forte em artistas emergentes da América Latina, além de playlists editoriais especiais, curadorias temáticas e conteúdos exclusivos.

Também estamos preparando ações em festivais e projetos com creators e comunicadores, porque acreditamos que a cultura pop se constrói junto, com muitas vozes.

PAPO POP: Para finalizar, o que a música representa na sua vida?

HELENA GAIA: Música é minha casa. É onde eu me reconheço, me curo e me conecto com o outro. É linguagem universal, é emoção crua, é memória e também futuro.

Trabalhar com música é um privilégio — e também uma responsabilidade. Porque quando a gente cuida de música, a gente está cuidando das histórias das pessoas.

 

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