Exclusivo: Bixarte lança “Feitiço” e inicia nova era com o single “Tentação”

Em informação exclusiva ao Papo Pop, a artista paraibana revela colaborações inéditas com Emicida e Vó Mera em seu novo disco. Unindo o calor da Paraíba à pulsação da noite paulistana, Bixarte transforma desejo, liberdade e ancestralidade em potência musical.

A travessia artística de Bixarte chega a um novo e luminoso ponto de virada. Reconhecida nacionalmente por sua força criativa que entrelaça música, poesia e performance, a artista travesti paraibana lança nesta sexta-feira, 24 de outubro, o single “Tentação”, primeira faixa de seu aguardado álbum “Feitiço”. O lançamento marca uma nova era em sua carreira, revelando uma sonoridade que funde rap, batidas eletrônicas e experimentações rítmicas, em um diálogo visceral entre ancestralidade e vanguarda. O videoclipe, gravado em João Pessoa, será lançado no sábado, 25 de outubro, e promete traduzir em imagem a intensidade e o magnetismo que movem o universo da artista.

A inquietude criadora e o discurso poético de Bixarte voltam à cena com “Tentação”, faixa que inaugura o universo do aguardado álbum Feitiço. O single chega envolto em uma atmosfera de ancestralidade, sensualidade e poder, unindo as raízes afro-brasileiras da artista à sua visão futurista da música popular.

Foto: divulgação.

Vivendo entre São Paulo e a Paraíba, Bixarte tem transformado sua trajetória em uma espécie de rito criativo: um movimento constante entre raízes e recomeços. Sua arte é travessia, corpo, denúncia e celebração. É também o reflexo de uma geração que encontra na música uma ferramenta de reconstrução simbólica e política.

“Tentação nasce do encontro entre dois mundos que me atravessam: o lugar onde cresci e o lugar onde me reinvento todos os dias. Eu quis unir o calor, o batuque e a ginga da minha Paraíba com a pulsação, a correria e o brilho da noite paulistana. É uma música sobre desejo, sobre corpo e liberdade, sobre o que é se permitir viver intensamente, mesmo quando o mundo tenta me enquadrar. É um som pra dançar, pra sentir e pra lembrar que ser travesti é também poder criar feitiços com a própria existência”, declara Bixarte.

Produzida por Big Jesi e mixada por Guirraiz, “Tentação” apresenta uma aposta ousada no Jersey Club, gênero ainda pouco explorado no Brasil, mas aqui reinventado com sotaque e alma paraibana. O clipe, dirigido por Bixarte e Fúria Negra, com assistência de Pérola Padilha, é majoritariamente protagonizado e produzido por pessoas negras, reunindo mais de 20 profissionais paraibanos. O resultado é uma obra estética e política que se traduz em potência visual e sonora, um manifesto sobre corpo, pertencimento e liberdade.

“Esse trabalho marca também meu retorno ao rap”, conta a artista. “‘Tentação’ nasceu depois de uma noite com minhas amigas em João Pessoa, uma noite de riso, dança e liberdade. Eu quis levar essa energia pro radar, mostrar que a gente tem uma das cenas underground mais fortes do país, pulsando nas periferias paraibanas. É um convite pra conhecer a força da nossa noite, da nossa arte e da nossa gente.”

Em informação exclusiva ao Papo Pop, Bixarte revelou que o álbum “Feitiço” contará com participações de Emicida e Vó Mera, dois nomes que representam universos distintos, mas igualmente simbólicos da música e da resistência negra brasileira. A presença de Emicida, um dos maiores letristas e pensadores da música contemporânea, e de Vó Mera, ícone de sabedoria ancestral e memória popular, consolida o disco como uma celebração da diversidade e do poder criativo das margens.

Foto: Vó Mera e Emicida

Mais do que um álbum, “Feitiço” é uma declaração de força e encantamento. Inspirado na infância e juventude vividas em Santa Rita (PB), o projeto costura camadas de afetividade, misticismo, política e ritmo. Bixarte revisita suas origens com maturidade artística e potência estética, reafirmando-se como uma das vozes mais originais e instigantes da nova geração da música brasileira.

Foto: divulgação.

Com “Tentação”, Bixarte não apenas entrega uma canção: ela cria um portal. Um feitiço sonoro que conecta o tambor ancestral à batida eletrônica das metrópoles, o riso das amigas à dor das travessias, o corpo travesti ao centro da narrativa musical. Sua arte é resistência, mas também renascimento, e “Feitiço” promete ser a consagração de uma artista que transforma o existir em manifesto, e o som em liberdade.

Em entrevista ao Papo Pop, Bixarte fala sobre o poder de renascer, a força das parcerias e a magia que envolve seu novo trabalho.

Bixarte, “Tentação” marca o início de uma nova era. O que representa esse momento na sua trajetória artística e pessoal?

Eu acredito que “Feitiço” é uma continuação natural de “Traviarcado”, mas com uma nova energia e propósito. O maior feitiço que quero lançar com esse álbum é o reconhecimento da excelência de pessoas trans na música. Há um movimento muito bonito acontecendo, não apenas com artistas como Liniker, mas com toda uma geração de pessoas trans e travestis ocupando o espaço da indústria musical. O disco é um grande encontro de tambores da América Latina, um diálogo entre ancestralidades que se manifesta em ritmos como o rap, o afrobeat, o forró e o jazz. É uma celebração da força e da memória de quem veio antes.

O single mistura jersey club e trap, dois estilos intensos e cheios de atitude. Como surgiu essa combinação sonora e o que ela simboliza dentro do conceito de “Feitiço”?

Essa nova era traz uma estética completamente diferente de “Traviarcado”. Se naquele disco o vermelho e o preto faziam referência a Exu, agora o amarelo e o dourado evocam Oxum. Essa escolha é uma forma de revelar o lado doce, amoroso e também sensual que existe em nós. “Traviarcado” foi um pé na porta, muito político, mesmo dentro do pop. Já “Feitiço” é um álbum pop, mas profundamente espiritual. Eu quis unir o místico e o sagrado, mostrar que é possível dançar com o divino e fazer disso um ato político e poético.

Você sempre trouxe uma mensagem forte de empoderamento e resistência feminina nas suas músicas. Em “Tentação”, essa força vem com uma energia de liberdade e renascimento. Como foi traduzir esse sentimento em som e imagem?

“Tentação” nasceu de um processo de reconstrução pessoal. Eu passei por um relacionamento com um homem branco que reproduzia falas racistas, e saí dessa relação completamente esgotada. Voltei para a Paraíba para trabalhar e vivi uma noite que me transformou. Dessa vivência nasceu a música. Ela fala sobre autoestima, sobre o poder de se reerguer e de retomar o próprio corpo e o próprio desejo. É um convite à autonomia e à libertação.

O título do álbum, “Feitiço”, é poderoso e simbólico. Que tipo de magia você quis lançar no mundo com esse novo trabalho?

O feitiço que quero espalhar é o da autoconfiança, da força e da doçura. É sobre olhar para si com amor e entender que existir já é uma forma de encantamento. Cada faixa é um ritual de cura, um chamado para quem se reconhece nesse universo.

As noites paraibanas têm uma presença marcante no universo de “Tentação”. De que forma a cena local e as festas urbanas da Paraíba influenciaram essa nova fase?

A Paraíba é o meu ponto de partida e de retorno. As festas, os sons, as pessoas, a energia das ruas — tudo isso está em “Feitiço”. A noite paraibana é uma escola de liberdade e experimentação. Eu quis traduzir esse sentimento nas batidas, nas letras, no visual.

Você trabalha com Big Jesi e Guirraiz na produção e mixagem. Como foi essa parceria e o que eles trouxeram de novo para o seu som?

Big Jesi é meu produtor musical há quase sete anos, desde o início da minha carreira. Guirraiz é um parceiro de longa data e alguém que admiro muito. Tê-los nesse projeto é um gesto de respeito e continuidade. Eu tenho 24 anos e aprendi com minha mãe a valorizar quem veio antes. Big Jesi e Guirraiz são pioneiros na música paraibana, especialmente no rap, e trabalhar com eles é pedir licença para continuar esse legado. Essa parceria é sobre manter viva a história da nossa música e dar a ela novos caminhos.

Sabemos que o álbum contará com feats icônicos. Pode adiantar um pouco sobre as colaborações e como foi o processo de escolha?

Sim! Esse disco terá sete participações e posso revelar duas em primeira mão. Uma delas reúne Vó Mera e Emicida em uma mesma faixa. Eu quis colocar uma travesti paraibana e um dos maiores nomes do rap brasileiro lado a lado, levando a nossa sonoridade para o mainstream. É um encontro histórico, um grito de potência e representatividade.

Sua estética conceitual vem chamando atenção — das cores à fotografia e direção de arte. Quais foram as principais referências visuais e simbólicas dessa nova era?

A estética de “Feitiço” dialoga com a espiritualidade, a feminilidade e o poder do dourado como símbolo de abundância. Eu quis construir um universo visual que misturasse o sagrado e o pop, a rua e o altar. As fotos, as roupas e os vídeos trazem essa linguagem do encantamento e da liberdade.

“Tentação” fala sobre autonomia, desejo e reconstrução. Essas temáticas refletem também o que você viveu nos bastidores desse processo criativo?

Totalmente. Eu precisei me reconstruir emocionalmente para fazer esse álbum. Tudo que vivi está ali: as dores, as curas e as descobertas. “Tentação” é a síntese de um renascimento pessoal e artístico.

Qual foi o momento mais desafiador e o mais mágico durante a criação de “Feitiço”?

O mais desafiador foi fazer o disco sem patrocínio. Diferente de “Traviarcado”, que teve apoio da Natura Musical, esse projeto foi totalmente financiado por mim. Desde o clipe até a assessoria de imprensa, tudo saiu do meu bolso. É muito difícil fazer música no Brasil quando você não tem grandes nomes por trás. Mas também foi mágico ver tudo tomando forma, entender que a força da criação independe do dinheiro.

Se “Feitiço” fosse um ritual, quais seriam os três elementos essenciais que o compõem?

Ouro, altar e tambor. O ouro representa o brilho e o valor da arte; o altar, o sagrado que me guia; e o tambor, a ancestralidade que pulsa em tudo que faço.

E para encerrar: o que o público pode esperar das próximas faixas? Vem aí mais feitiço, mais fogo ou uma nova transformação?

Vem tudo isso junto. Mais fogo, mais feitiço e muita transformação. Esse álbum é cheio de experimentações sonoras e de parcerias incríveis. É um trabalho que reflete a força da música paraibana, com produção 100% local. Vai ter participação do Mofo Record, que é um nome em ascensão no rap paraibano. Podem esperar qualidade, autenticidade e um time de peso levando a Paraíba para o radar nacional.