A música brasileira, de tempos em tempos, é abençoada por obras que rompem fronteiras, desafiam rótulos e redefinem o que é ser popular. Rock Doido (DeckDisc, 2025), novo álbum de Gaby Amarantos, é uma dessas epifanias sonoras. Em 22 faixas curtas e frenéticas, a artista paraense entrega um banquete de criatividade, humor e autenticidade, um grito festivo de liberdade que reafirma o Norte como centro pulsante da cultura nacional.
Desde Treme (2012), Gaby vem abrindo caminhos para o tecnobrega e a estética das aparelhagens ganharem status de arte pop. Mas é em Rock Doido que ela atinge o auge de sua maturidade artística. A cantora, produtora e compositora não apenas preserva a essência vibrante do Pará, como a eleva a uma linguagem universal, unindo tradição e futurismo com uma ousadia rara.

O disco é um mergulho nas sonoridades das periferias nortistas, conduzido com domínio técnico e sensibilidade. Ao lado do trio MGZD (Baka, Dedé Santaklaus e Cido), Gaby constrói uma narrativa musical que transita entre o pop, o brega, o eletrônico e o experimental, sem jamais perder a espontaneidade. Cada faixa é um convite ao corpo, à emoção e à celebração da identidade amazônica.

Músicas como “Arrume-se Comigo”, “Eu Tô Solteira” e “Short Beira Cu” capturam a energia de uma artista que se diverte com sua própria criação, enquanto “Foguinho”, uma releitura de Somebody That I Used to Know (Gotye), transforma ironia e ousadia em arte. As parcerias também reforçam a potência do projeto: “Tumbalataum”, com a Gang do Eletro, é uma ode às brincadeiras populares com beats futuristas; “Não Vou Chorar”, com Lauana Prado, cria um elo inusitado entre o sertanejo e o tecnobrega; e “Te Amo Fudido”, com Viviane Batidão, é o clímax do disco, pura catarse emocional e rítmica.
Rock Doido é mais que um álbum. É um manifesto estético, uma afirmação de pertencimento e uma celebração da cultura amazônica como força propulsora do Brasil contemporâneo. Cada batida parece pulsar nas veias de Gaby como um chamado à liberdade e à alegria de existir.
A grandiosidade dessa fase da artista se estende aos palcos. No dia 6 de dezembro, Gaby Amarantos desembarca em Recife para uma apresentação histórica no Festival No Ar Coquetel Molotov 2025, prometendo um espetáculo à altura da energia incendiária do álbum. O público pernambucano será testemunha da fusão entre música, performance e identidade que só uma artista como Gaby é capaz de oferecer.
Com Rock Doido, Gaby Amarantos consolida-se como uma das vozes mais criativas e visionárias da música brasileira. Sua arte transcende estilos, fronteiras e modas passageiras, reafirmando a Amazônia como fonte inesgotável de potência, ritmo e imaginação.







