A Funmilayo Afrobeat Orquestra apresenta ao público o EP De Ponta a Ponta, obra que traduz as múltiplas experiências de suas integrantes com a cidade de São Paulo, território de contradições, desigualdades, encontros e descobertas. O lançamento marca um novo ciclo na trajetória do grupo, consolidando seis anos de uma caminhada que combina arte, política e coletividade.

Fiel ao afrobeat que sustenta sua identidade, a Funmilayo expande fronteiras sonoras ao incorporar rap, reggae, soul, jazz e música popular brasileira, sem perder de vista o pulso ancestral que move sua criação. O EP nasce da força feminina e negra de um coletivo que, mais do que tocar, narra o Brasil contemporâneo por meio da musicalidade. A entrada da tecladista Anacruse e da baixista Keith Félix introduz novas texturas eletrônicas e graves intensos, sob direção musical de Marcos Maurício, responsável também pelos arranjos, edição e mixagem.
O repertório abre com A Cidade é um Espelho, de Rosa Couto, uma reflexão poética e melancólica sobre a capital paulista. Inspirada na obra de Itamar Assumpção, a canção revela uma São Paulo paradoxal: ao mesmo tempo cruel e fascinante, capaz de engolir e de impulsionar. Em O Encanto e a Maquinaria, o grupo mergulha em um discurso potente sobre racismo ambiental, expondo a lógica desigual que marca o cotidiano urbano e as feridas deixadas pela modernidade. O EP culmina com De Ponta a Ponta, faixa composta por Sthe Araujo, que transforma o “bonde” em metáfora do movimento constante da cidade, onde vida, luta e sonho se cruzam.
“Queremos transmitir um pouco das vivências de cada integrante da banda no território cheio de conflitos, disputas e oportunidades que é São Paulo. Como pessoas negras, perguntamos sempre: quais são nossos desafios? Como é ser de axé numa cidade de concreto? Essas questões atravessam nossa música e sustentam nossa resistência”, afirmam as integrantes.
A capa, assinada pela artista periférica BraNw, evoca o caos e a oniricidade paulistana, dialogando com o clássico Bitches Brew, de Miles Davis, e com o caráter expansivo do afrobeat. A direção de arte visual e os registros de estúdio assinados por Paris Araujo e Igor de Paula traduzem em imagem o mesmo dinamismo urbano e afro-brasileiro que vibra nas faixas. Entre os bastidores, um momento de força e beleza marcou o processo: a trompetista Larissa Oliveira gravou o disco enquanto gestava seu filho, dando à luz poucos dias após as sessões, gesto simbólico que reforça a potência criadora e cíclica do grupo.
Com Rosa Couto, Larissa Oliveira, Stela Nesrine, Ana Góes, Amanda dos Anjos, Anacruse, Keith Félix, Jasper Okan, Pri Hilário, Afrojuu Zambeleua, Vanessa Soares e Sthe Araujo em cena, a Funmilayo Afrobeat Orquestra reafirma em De Ponta a Ponta sua essência coletiva, espiritual e insurgente. O trabalho, lançado de forma independente e distribuído pela United Masters, é mais que um EP, é uma travessia, uma cartografia sonora das margens, um manifesto em ritmo e corpo.
Ouça o EP na sua plataforma digital favorita:
https://unitedmasters.com/m/de-ponta-a-ponta
Ficha Técnica
Direção Artística e Musical: Funmilayo Afrobeat Orquestra
Coordenação e Produção: Sthe Araujo
Produção Musical, Arranjos, Edição e Mixagem: Marcos Maurício
Masterização: Felipe Tichauer
Instrumentistas: Larissa Oliveira (trompete), Stela Nesrine (sax alto), Ana Góes (sax tenor), Mariana Oliveira (sax barítono), Amanda dos Anjos (trombone), Anacruse (teclado/synth/Rhodes), Keith Félix (baixo), Jasper Okan (guitarra), Pri Hilário (bateria), Afrojuu Zambeleua e Sthe Araujo (percussão), Rosa Couto (xequerê e voz)
Produção Executiva: Vanessa Soares
Arte de Capa: BraNw
Fotos e Vídeos: Paris Araujo e Igor de Paula
Faixa a Faixa
A Cidade é um Espelho
Inspirada em Sampa Midnight, de Itamar Assumpção, a faixa de Rosa Couto retrata o sentimento de quem vive a intensidade e a solidão da metrópole. A harmonia tensa e o ritmo irregular espelham o trânsito e a pulsação de uma cidade que acolhe e repele, traduzindo a experiência de uma artista mineira que há uma década tenta decifrar São Paulo.
O Encanto e a Maquinaria
Composta em meio às chuvas e alagamentos de 2025, a faixa aborda o racismo ambiental e a desigualdade nos impactos dos desastres urbanos. Jasper Okan costura a letra com símbolos afro-indígenas: Fundanga (pólvora de descarrego), Quiumba (espírito de vibração baixa) e Catimbó (fumaça de erva). A canção afirma os terreiros e as comunidades tradicionais como territórios de sabedoria ecológica e espiritual.
De Ponta a Ponta (Faixa de Foco)
Escrita por Sthe Araujo, a canção é um retrato lírico da zona sul paulistana e da travessia cotidiana de quem habita suas margens. O “bonde” torna-se símbolo do movimento incessante da cidade — rápido e lento, tenso e cheio de esperança. É uma ode à resistência negra, à força feminina e à capacidade de transformar concreto em caminho.







