Paraibano Julian Santt faz história em Lisboa e se torna o primeiro artista transmasculino do Brasil a se apresentar no exterior

Com o espetáculo Show-Manifesto, o cantor e compositor paraibano leva a força da arte nordestina para além do Atlântico, unindo poesia, música e resistência em uma performance histórica na capital portuguesa.

No último domingo (2), a capital portuguesa foi palco de um momento histórico para a música brasileira. O cantor e compositor Julian Santt, natural da Paraíba, levou a força da arte nordestina para além do Atlântico com o Show-Manifesto, apresentado na Fábrica Braço de Prata, em Lisboa. A noite marcou não apenas um marco pessoal, mas também coletivo: Julian tornou-se o primeiro artista transmasculino do Brasil a se apresentar internacionalmente, unindo poesia, música e ativismo em uma performance de rara potência estética e simbólica.

Foto: Caio Oviedo

Realizado com recursos da Política Nacional Aldir Blanc, por meio do Edital Arte na Bagagem, o espetáculo foi uma celebração de pertencimento, resistência e emoção. Diante de um público diverso, formado por brasileiros e portugueses, Julian transformou o palco em um espaço de afeto e denúncia, onde cada canção ecoava como manifesto e cada acorde reafirmava a urgência de existir.

“Eu não poderia estar mais feliz e grato. Fiquei surpreso ao encontrar, aqui em Lisboa, pessoas que já acompanham o meu trabalho, desde brasileiros até portugueses que cantaram minhas músicas comigo e se emocionaram por estarem ali. Foi muito especial poder me apresentar para um público novo, que se abriu para o que eu tinha a dizer”, compartilhou o artista, visivelmente emocionado após o show.

Mais do que uma apresentação, Show-Manifesto simbolizou uma travessia geográfica, emocional e histórica. Em Lisboa, Julian teceu um diálogo entre memória e futuro, entre as cicatrizes coloniais e a urgência de narrativas de resistência que emergem do Nordeste. “Brasil e Portugal são tecidos por memórias, ancestralidades e cicatrizes coloniais, mas também pela potência de novos começos. Levo comigo a força das ruas, dos becos e das vozes que ecoam do Nordeste, vozes que, mesmo silenciadas por séculos, seguem cantando”, afirmou o artista.

Foto: Caio Oviedo

Durante a apresentação, Julian percorreu sua trajetória por meio de composições autorais que falam sobre as dores, potências e afetos de um corpo trans e nordestino. O repertório reuniu faixas dos EPs Transrevolução e Xote System, além da inédita Criminosa, que antecipa o lançamento de seu primeiro álbum de estúdio, previsto para 2026.

Foto: Caio Oviedo

Com uma sonoridade que transita entre o regional e o contemporâneo, o espetáculo fundiu ritmos nordestinos à música popular brasileira e à cena independente, resultando em uma experiência sensorial e política. O público, tomado pela intensidade da performance, aplaudiu de pé o artista que, com lirismo e coragem, vem redefinindo os espaços da música independente no país.

Em cena, Julian Santt levou a Lisboa um Nordeste plural, insurgente e vivo, onde a dor se transforma em arte e a visibilidade em afeto. Com o Show-Manifesto, o cantor reafirma-se como uma das vozes mais potentes da nova geração da música brasileira, usando a arte como instrumento de luta, cura e transformação social — e, agora, como símbolo da presença trans brasileira no mundo.