Luan Barbosa lança “Cabrita da Peste”: um mergulho afetuoso e bem-humorado na alma nordestina

O paraibano Luan Barbosa une vivências pessoais, afeto e deboche em seu novo livro, onde aborda autoconhecimento, terapia e o desafio de se reinventar.

Jornalista e escritor, o paraibano Luan Barbosa lança o livro “Cabrita da Peste”, um romance que mistura humor, vulnerabilidade e muita brasilidade. Em entrevista ao Papo Pop, ele fala sobre o processo criativo, influências e o papel da terapia na sua trajetória pessoal e literária.

Foto: Luan Barbosa.

A arte tem seus próprios caminhos — e, às vezes, ela vem bater à porta mesmo quando a rotina insiste em sufocar a criatividade. Para o jornalista Luan Barbosa, a escrita sempre foi essa força que o acompanhou desde cedo, mas só agora, com o lançamento do livro Cabrita da Peste, ela ganha espaço como protagonista.

Misturando autoficção, elementos da cultura nordestina e um humor inteligente, o autor apresenta a história de Murilo, um jornalista ansioso e irônico que reencontra um antigo projeto literário nas sessões de terapia. Ao revisitar o roteiro da personagem Lindalva — uma mulher sertaneja destemida e espirituosa — ele acaba enfrentando as próprias dores, inseguranças e afetos mal resolvidos.

Foto: Luan Barbosa.

Você já tem uma trajetória sólida no jornalismo e na comunicação paraibana. Como a escrita criativa surgiu nesse caminho?

Tem uma trend no TikTok com um áudio que diz: “Se você nasceu pra arte, ela vai te buscar, mesmo que você se esconda num escritório entediante”. Me identifico muito. Desde pequeno, a escrita e a criatividade me acompanharam. Minha mãe diz que com dois anos eu já andava com uma caneta na mão — exagero de mãe, claro, mas acho que tem um fundo de verdade.

Na escola, eu me destacava nas disciplinas de humanas e, aos 15 anos, publiquei meu primeiro livro numa coletânea com outros alunos, Asas Poéticas. Enquanto a maioria seguiu outros rumos, eu segui escrevendo. No jornalismo, escolhi contar histórias, mas o mercado estava em crise. Fui para o marketing digital, onde consegui unir criatividade e estabilidade. Ainda assim, a escrita literária nunca me deixou.

E em que momento você sentiu que queria contar histórias para além do jornalismo tradicional?

Acho que foi um incômodo gradual. Durante a faculdade, às vezes a gente era obrigado a produzir matérias sem alma — tipo “obra no estacionamento do CCHLA completa um ano”. Um dia, me deram uma pauta especial: entrevistar um fotógrafo que documentou uma comunidade indígena. Foi uma conversa profunda, cheia de detalhes… mas meu celular travou. Só gravei três minutos. A matéria virou uma notinha.

Aquilo foi um divisor de águas. Ali percebi que contar histórias de verdade exige mais do que vontade: exige entrega, sensibilidade, e um pouco de sorte também.

A Paraíba e o Nordeste estão muito presentes em Cabrita da Peste. Como sua vivência regional influencia sua escrita?

Totalmente. Sou sertanejo, nascido na Paraíba, embora tenha crescido em São Paulo até os 13 anos. Voltar pra cá na adolescência — época de formação da personalidade — me moldou muito. Me deu um olhar de dentro e de fora ao mesmo tempo.

Isso se reflete no livro. Cabrita da Peste tem alma nordestina, fala com sotaque, tem cheiro de interior e ritmo de feira livre. É um retrato afetivo da nossa realidade, com todas as dores e belezas que ela carrega.

O personagem Murilo, assim como você, é jornalista. Há elementos autobiográficos no livro?

Tem, mas eu classificaria mais como autoficção. Murilo não sou eu, mas carrega partes minhas e de pessoas próximas. É uma forma de metaforizar o real. É ficção com raízes na verdade emocional.

E a Lindalva, protagonista criada por Murilo dentro da história? Como surgiu essa personagem tão forte e marcante?

Lindalva é inspirada numa amiga muito especial. Também é sertaneja, veio pra João Pessoa estudar, e é dessas pessoas com quem a conexão é imediata e profunda. Ela tem o deboche, a coragem e a ternura da personagem. Hoje mora no Canadá, mas nossa amizade continua. Escrevê-la foi como homenagear essa amizade e tantas outras mulheres fortes do nosso cotidiano.

Você transita entre humor e emoção com bastante naturalidade no livro. Foi difícil equilibrar esses elementos?

Na verdade, não. Acho que é quem eu sou. Tenho um lado debochado, ácido, mas também sou sensível, poético. Esses dois polos convivem em mim — e também no Murilo. Cabrita da Peste tem essa gangorra emocional porque a vida é assim: às vezes você ri, às vezes chora. E às vezes, faz os dois ao mesmo tempo.

A terapia aparece como um espaço central na narrativa. Qual foi o papel dela na sua própria jornada como autor?

Foi essencial. Durante a pandemia, minha terapeuta me incentivou a retomar um projeto antigo, e aí resgatei Cabrita da Peste, que era originalmente um roteiro inacabado. Reescrever essa história como romance foi terapêutico. Inserir as sessões no enredo fez sentido: queria mostrar o processo de autoconhecimento de forma honesta e original. E me ajudou também a aceitar que sim, eu sou escritor.

A obra fala sobre temas como vulnerabilidade, medo e relações humanas. Você acredita que esses temas refletem questões urgentes da nossa geração?

Com certeza. Murilo representa uma geração millennial que foi criada com promessas de liberdade e sucesso, mas que hoje vive ansiosa, frustrada, solitária. Trabalhamos muito, ganhamos pouco, e quando conquistamos o que queríamos, percebemos que não era aquilo tudo.

Falar sobre isso é necessário. Mostrar personagens imperfeitos, vulneráveis, é um convite ao diálogo. Ninguém está 100% bem — e tudo bem não estar.

Para fechar: que conselho você daria para quem quer começar a escrever?

Talvez o principal seja: se a escrita mora em você, uma hora ela vai te encontrar. Mesmo que você fuja. As oportunidades são poucas, mas existem. Hoje temos plataformas como a Amazon e o Wattpad. Se você acredita na sua voz, continue. Escreva, publique, teste. E faça terapia — vai ajudar a lidar com os “nãos” e as inseguranças.

Serviço:

Cabrita da Peste, de Luan Barbosa

Disponível com o autor ou na loja Psi Com Jogos

Sinopse:

Murilo, jornalista ansioso e irônico, transforma o humor em armadura. Nas sessões de terapia, é desafiado a revisitar Cabrita da Peste, um roteiro antigo que criou. A protagonista Lindalva, sertaneja destemida, começa a revelar o que Murilo esconde dentro de si. Entre risadas, traumas e descobertas, ele encontra coragem para reescrever sua história.