Jesuíta Barbosa traduz com brilho a essência de Ney Matogrosso em Homem com H

O longa-metragem dirigido por Esmir Filho é uma ode à liberdade, à arte e à coragem de um dos maiores vanguardistas da cultura brasileira. Em cena, Jesuíta Barbosa reluz como Ney Matogrosso, em uma performance simbiótica e visceral.
Foto: divulgação.

A convite da Vivass Comunicação e do Centerplex do Mag Shopping, em João Pessoa, assisti à emocionante cinebiografia Homem com H, filme que traça com sensibilidade e vigor a trajetória de um dos artistas mais singulares e revolucionários da música brasileira: Ney Matogrosso.

Foto: Mateus Silomar.

Mais do que um retrato cronológico, o longa mergulha na complexidade de um artista que moldou sua identidade à revelia das convenções. Ney é a própria encarnação da ousadia estética e sonora, um corpo em estado de arte, desafiando normas, gêneros e censuras. Vanguardista, provocador e absolutamente livre, sua figura transcende o palco e se inscreve na própria história cultural do Brasil.

Em cena, Jesuíta Barbosa entrega uma interpretação reluzente, arrebatadora. Há uma espécie de simbiose entre ator e personagem que confunde os limites do real e do representado. Barbosa, com seus olhos intensos, gestos precisos e presença magnética, não apenas evoca Ney Matogrosso — ele o incorpora com rara intensidade. Sua performance transborda verdade e sensibilidade, especialmente nos momentos em que o filme nos convida a um mergulho íntimo no homem por trás do mito.

 

Homem com H nos conduz por passagens marcantes: a infância marcada pelos conflitos com o pai, os primeiros passos na cena artística paulistana, a consagração com o grupo Secos & Molhados, e os confrontos com a repressão durante a ditadura militar. Mas é nos silêncios, nas pausas, nas fragilidades expostas com delicadeza, que o filme mais ressoa.

Foto: divulgação.

A trilha sonora — com clássicos como “Bandido Corazón”, “Pro Dia Nascer Feliz” e a icônica “Homem com H” — serve como espinha dorsal emocional da narrativa, cada canção carregando camadas de dramaticidade e simbolismo. A estrutura do longa rompe com a linearidade tradicional das cinebiografias e aposta numa narrativa capitular, mais poética que expositiva, favorecendo a construção emocional e estética da figura retratada.

É também uma obra que promove uma necessária reparação simbólica. Ney Matogrosso, por vezes mal interpretado em retratos anteriores — como no filme Cazuza, onde foi retratado de forma caricatural —, aqui ganha a dimensão justa de sua grandeza. Em suas próprias palavras:

“Fui completamente apaixonado, mas era difícil conviver com os dois Cazuzas que havia nele (…). Foi uma das pessoas mais encantadoras que conheci.”

Ney Matogrosso é mais que um cantor. É um acontecimento. Sua arte desnuda, provoca, encanta e transforma. Homem com H é um tributo à sua coragem estética, ao seu corpo político, à sua alma poética. Um filme que não apenas conta sua história, mas reverbera seu grito de liberdade — ainda tão urgente.

Sinopse:

Homem com H acompanha a trajetória de Ney Matogrosso desde sua infância em Bela Vista, no Mato Grosso do Sul, até tornar-se um dos ícones mais impactantes da música brasileira. Da repressão familiar aos palcos mais emblemáticos do país, o filme percorre as fases marcantes de sua vida e carreira — incluindo a era com os Secos & Molhados e os embates com a ditadura militar —, revelando sua força criativa, sua coragem pessoal e sua relevância cultural inquestionável. Não recomendado para menores de 16 anos.