Myra Maya embarca em turnê junina com show vibrante, visual steampunk e afeto à flor da pele

Com figurino inspirado no steampunk e repertório recheado de clássicos nordestinos, artista paraibana transforma o São João em um espetáculo sensorial de tradição, emoção e ousadia.

O São João tem cheiro de milho assado, som de sanfona e um calor que vai além das fogueiras: pulsa na pele e na alma de quem celebra. E é nesse clima que a cantora Myra Maya dá início à sua Turnê de São João, um espetáculo que mistura tradição, afeto, inovação e um toque surpreendente de steampunk – sim, você leu certo.

Foto: divulgação.

Com uma estética ousada e um repertório de arrepiar, Myra não apenas canta: ela transporta o público para um universo onde o passado se reinventa em pleno palco, onde a memória afetiva do sertão encontra beats modernos, figurinos teatrais e emoção de sobra.

Uma trilha sonora que começa com “O Amor e o Poder”

Foto: divulgação.

Tudo começou com uma música. Uma daquelas que já carregam em si o peso da história. Myra escolheu “O Amor e o Poder”, clássico imortalizado por Rosana em 1987, como ponto de partida para sua imersão musical. Mas ela foi além da nostalgia sonora: mergulhou também em referências visuais, como o steampunk — subgênero da ficção científica que combina estética vitoriana e tecnologia a vapor.

“A ideia surgiu do meu projeto anterior, ‘Minhas Versões’, onde resgato músicas marcantes e dou uma roupagem nordestina com a pegada da Myra Maya! Escolhi essa canção porque ela carrega uma força dramática intensa, e essa estética maximalista do steampunk veio como um convite para revisitar o passado com liberdade criativa”, explica.

Palco sagrado, memória viva

Para Myra, o São João não é só data no calendário — é raiz. É o cheiro da casa da avó no Sertão da Paraíba, a goma fresquinha da tapioca feita na hora, as fogueiras nas calçadas, o milho assado, a música ecoando pelas ruas cheias.

“Minha família é toda do Sertão, e o São João era sinônimo de fartura e celebração. Hoje, subir ao palco nesse período é trazer toda essa lembrança boa comigo, traduzida em som, cor e movimento”, diz a cantora, emocionada.

E não se trata apenas de recordar: é também de representar. No palco, Myra imprime com força sua identidade nordestina — tanto no sotaque quanto na postura artística. Ela carrega consigo o orgulho de suas origens e faz questão de celebrá-las com autenticidade.

Tradição e inovação de mãos dadas

Apesar da roupagem moderna, com elementos eletrônicos e figurinos arrojados, a base da turnê é profundamente enraizada na tradição. O xote, o baião e o forró de vaquejada estão lá — com direito a sanfona, zabumba e triângulo —, mas ganham arranjos ousados e um visual que salta aos olhos.

“Equilibrar modernidade e tradição num show de São João é uma arte. É preciso respeitar as raízes e, ao mesmo tempo, provocar o novo. A estética steampunk vem exatamente para isso: mostrar que o passado pode ser reinventado sem ser esquecido”, afirma.

Spoilers, hits e vaquejadas

A turnê trará uma trilogia musical com lançamentos em sequência. O pontapé inicial é com “O Amor e o Poder”, seguido por “Eu Juro” — um piseiro pop com cara de hit —, e finalizando com “Amor de Vaquejada”, composição autoral que mergulha nas emoções das festas do Sertão.

“Essa música tem cheiro de chão batido, de festa em sítio, de amor vivido nas arenas de vaquejada. É uma canção que fala direto com meu coração e, tenho certeza, vai falar com o do público também”, revela.

João Pessoa no coração

Embora a turnê percorra várias cidades, há um palco com gosto especial: João Pessoa, sua terra natal.

“Depois de tantos anos de carreira, essa será a primeira vez que canto no São João da minha cidade. Um marco! Quero mostrar que o ‘santo de casa’ faz milagre sim — e com muito forró!”, diz, rindo.

Fora do palco: forró, comidas e chapéu na cabeça

Nascida em junho, Myra é, como ela mesma diz, “junina de coração e de calendário”. Fora dos palcos, ela vive intensamente cada detalhe das festas: dança, veste figurino típico, e claro, saboreia as comidas que marcaram sua infância.

“Não abro mão da bota, do chapéu, de uma boa pamonha e de um arrasta-pé até o dia clarear!”, brinca.

O que fica depois do show

Mais do que entreter, a artista quer emocionar. Ao fim de cada apresentação, ela espera que o público leve mais do que o eco da música: leve pertencimento, orgulho, raiz.

“Quero que cada pessoa saia com a certeza de que a nossa cultura é poderosa. Que ser nordestino é ser resistência, beleza, identidade. É isso que me move e é isso que quero transmitir em cada nota, em cada passo, em cada figurino”.

A Turnê de São João de Myra Maya é, acima de tudo, uma celebração: da música, da memória e da mágica que é ser nordestino no mês de junho.

Confira a entrevista completa:

1. Myra, conta pra gente: como nasceu a ideia dessa turnê especial de São João? O que o público pode esperar dos seus shows nesse período tão simbólico?

Tudo começou com uma música! Escolhi uma canção muito conhecida do grande público para dar continuidade ao meu projeto anterior: Minhas Versões! Gosto de resgatar músicas marcantes e dar uma roupagem nordestina com a pegada da Myra Maya! (Rsrs)

Dessa vez, não foi diferente! Escolhi “O Amor e o Poder”, que já é uma versão cantada por Rosana, de um grande sucesso de 1985 da Jennifer Rush (pouca gente sabe disso!). Rosana lançou sua versão em 1987 — o mesmo ano em que foi cunhado, pela primeira vez, o termo steampunk!

E o que é steampunk? Steampunk é um subgênero da ficção científica e um estilo artístico que se inspira na era vitoriana e eduardiana, imaginando um futuro alternativo onde a tecnologia a vapor é a base da sociedade… Como eu cheguei nisso?! A grande sacada é revisitar o passado com essa estética tão nostálgica e maximalista, que nos transporta para um universo que beira a ficção científica — um gênero que me fascina!

2. Você é uma artista com uma energia incrível no palco! Como é pra você viver o São João não só como espectadora, mas como atração principal em diversas cidades?

O São João, pra mim, sempre foi marcado por memórias afetivas aconchegantes! Minha família é toda do Sertão da Paraíba, e meu avô materno, além da política, sempre mexeu com a terra… E o São João era época de fartura! De colheita! De milho assado na fogueira da calçada! De tapioca feita com a goma recém-saída da casa de farinha! Tempo de festa boa e casa cheia!

O São João, pra mim, é o resgate de todos esses sentimentos e sensações! É uma reconexão com meu passado feliz e festivo. Trazer tudo isso pro palco — que é um espaço sagrado pra mim — é só traduzir toda essa alegria tão pulsante para os públicos que irei encontrar!

3. O São João tem uma força cultural enorme no Nordeste. O que mais te inspira nessa época do ano e como isso aparece no seu repertório ou performance?

O que mais me inspira é a reafirmação da nossa cultura!

É o amor e o orgulho das nossas raízes, do nosso sotaque, das melhores comidas do mundo e, é claro, da riqueza da música nordestina!

Neste ano, trouxe para o repertório todos os artistas que foram trilha sonora das minhas festas de São João até aqui — todos que, de alguma forma, contribuíram para a minha formação enquanto cantora nordestina!

4. A turnê vai passar por vários lugares. Tem alguma cidade ou palco em especial que te emociona mais ou que tem um gostinho diferente?

Com certeza, cantar em João Pessoa será especial pra mim! Depois de tantos anos de carreira, será a primeira vez que irei me apresentar no São João da minha cidade! Contrariando o ditado, pra mostrar que “santo de casa faz milagre”, sim!

5. Seu estilo musical tem uma pegada moderna, mas o São João também carrega muitas tradições. Como você equilibra isso nos seus shows?

Equilibrar modernidade e tradição num show de forró é uma arte que exige sensibilidade, criatividade e respeito pelas raízes.

Preservo estilos como xote, baião, forró de vaquejada — com a presença fundamental da sanfona, do triângulo e da zabumba —, mas sem deixar de inovar nos arranjos com modernidades sonoras e com a ousadia peculiar dos figurinos!

6. Dá pra dar um spoiler? Alguma música nova, participação especial ou surpresa no palco?

Este ano, as músicas serão lançadas em sequência! A primeira, como mencionei lá no início, será O Amor e o Poder — que é uma versão da versão (risos)!

Minha versão pop nordestina da música eternizada por Rosana, que marcou a novela Mandala na mesma época…

Certamente, o visual — não só o meu, mas de toda a banda e do palco — será uma imersão nesse universo steampunk, que olha para o passado para reimaginar o que a realidade poderia ter sido!

O Amor e o Poder é o nosso resgate de algo marcante, como foi a cantora Rosana pra mim.

Na sequência, lançaremos Eu Juro, que com certeza será um hit! Um piseiro mais moderno, com letra fácil e uma pegada dançante que conquista de primeira! Uma composição de parceiros que escrevem para artistas como Ana Castela e Léo Santana…

Pra fechar essa trilogia com chave de ouro, vem Amor de Vaquejada, uma composição minha, carregada de todas essas memórias afetivas das festas de São João que vivi — e que permeavam os grandes eventos de vaquejada no Sertão! Uma música envolvente, com vocais fortes e linguagem totalmente imersiva nesse universo de amores sertanejos.

7. A gente sabe que o São João também é tempo de comida típica, dança e calor humano. Fora dos palcos, o que você mais ama viver nessa época?

Eu sou junina, né?! Nascida em 05/06!

Amo esse mês por toda a força que ele carrega da nossa cultura, da nossa música! Fui criada totalmente inserida nesse contexto! Aproveito cada segundo, no palco e fora dele!

Não abro mão de um bom forró, das comidas típicas que amo, da minha bota e do meu chapéu!!! Eita, como é bom!

8. Pra fechar: o que você quer que as pessoas levem no coração depois de assistirem a um show da sua turnê junina?

Quero que elas sintam o que eu já estou sentindo nos ensaios: o sentimento de pertencimento!

O orgulho de ser paraibana e nordestina.

É ter uma cultura e uma musicalidade tão ricas como as nossas — e levar isso no coração, na pele e no passo de cada forró!