A cena foi simbólica e histórica: uma das maiores artistas brasileiras no cenário mundial, Anitta, 32, atravessou o território urbano e globalizado que costuma habitar para se conectar, de maneira genuína, com uma das tradições mais profundas do Brasil. Sua participação na cerimônia do Kuarup, realizada neste sábado (16) na aldeia Kuikuro, no Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso, transcendeu o ato de uma visita, foi um gesto de reconhecimento e reverência.

Ao lado do apresentador Luciano Huck, que grava um especial para o programa Domingão com Huck, Anitta se permitiu mergulhar em um espaço de memória, espiritualidade e resistência. Recebida com pinturas corporais tradicionais e acolhida pelos líderes indígenas, a artista fez questão de agradecer e de se posicionar de forma clara: a luta pela preservação do território, da cultura e da natureza indígena também é sua causa.

“Só tenho a agradecer pelo convite e por cuidar da nossa natureza, continuarem lutando, persistindo, resistindo. Eu sei muito bem como é a força contrária, para acabar com o território indígena, com a cultura. Eu sei a forma que vocês insistem, resistem. Comigo vocês sempre vão poder contar, desde as pequenas às grandes coisas”, afirmou a cantora.
Mais do que um discurso, o gesto de Anitta reverbera no campo simbólico. Em um país em que os povos originários ainda enfrentam ataques, apagamentos e ameaças constantes, ver uma artista de alcance global emprestar sua voz, sua imagem e sua influência a essa luta é um ato de potência. Não se trata de oportunismo, mas de um exercício de responsabilidade social, de compreender que sua trajetória pessoal só ganha sentido quando também se conecta às dores e esperanças coletivas.
O Kuarup, cerimônia que celebra os mortos ilustres e reafirma a continuidade da vida, tornou-se, neste encontro, também palco de uma mensagem maior: a de que cultura e ancestralidade caminham lado a lado, e de que é possível, e urgente, resgatar a dignidade de um Brasil que ainda pulsa em seus povos originários.
Anitta, ao pisar o chão sagrado do Xingu, não apenas honrou a memória dos que vieram antes, mas também reafirmou a necessidade de preservar o futuro. Sua presença ressoou como ponte entre mundos distintos, revelando que a arte, quando se abre ao diálogo com a ancestralidade, se torna ainda mais universal.